22 de jan. de 2010

Vamos começar por inventar histórias?
Escolha uma parte do seu corpo e invente uma história de amor. Lá vai a minha:

"Maria Indicadora era daquelas que adorava apontar os defeitos e as qualidades e os lugares e tantas e tantas coisas desse mundo. Desde pequena sempre metia o bedelho onde era e não era chamada. E é claro, prezava muito por seus dedinhos, todos eles, pois cada lhe permitia meter os bedelhos em todos os lugares que quisesse: nas orelhas, pra aliviar aquela coceirinha, no bolo, na panela de sopa quente e gostosa, no nariz, nos olhos, na cabeça e até entre uma unha e outra, dentro do armário.

Pois foi assim de uma pro outro, sem nada nem ninguém, nem ela mesma saber porquê, aquilo tudo aconteceu, daquele jeito.

Ela acordou do mesmo jeito como acordava todos os dias, se espreguiçou e coçou os olhos, com o dedo mindinho como fazia todos os dias, retirando-lhes as remelas... mas... não conseguia nem mesmo alcançar os olhos, pois... o seu dedo mindinho, o esquerdo, havia sumido.

O mais estranho: não havia sinal de corte nem sangue, nem ela havia se machucado no dia anterior, nem era sonâmbula pra ter perdido seu mindinho por aí.

Ainda mais estranho foi no dia seguinte: o dedo mindinho, o direito também havia desaparecido.
E no outro o seu vizinho esquerdo. O seu vizinho direito. Os pai de todos. Os fura bolos. E até os mata piolhos.

Ela já não saía mais de casa, de deito nenhum! Imagine, como ela iria acenar para as pessoas, pegar os pães na mercearia, colher as flores, receber um beijo nas mãos?!!!!

Bom, ela até tentou alguma artimanha para disfarçar: luvas!!!! Na primeira vez, empurrou terra pra dentro dela, mas... a terra pesava muito e a luva caía no chão.

Depois tentou palitos de madeira, mas... eles eram muito fininhos, não davam firmeza e ainda pareciam ossos.

E os ossos?! Cruzes! Começaram a feder e a juntar formigas.

E Maria Indicadora começou a apontar pra baixo, com toda a sua cabeça e olhos e ombros saudosos daqueles dez dedinhos.

O que precisava mandava entregar. Já deixava o dinheiro na porta. Não precisava trabalhar mesmo, porque moça com a vida dela, já teve quem metesse os dedos na cara de suor e deixasse-lhe apenas os louros.

E, agora, só ficava na janela e com as mãos bem escondidas, pra ninguém desconfiar.

Mas, ainda que quisesse se esconder, sabe-se lá o porquê, bem naquele dia, aquele moço passou por ali, e algo nela acertou nele e mandou seta para aquela janela e nenhuma outra.

Os olhos dele se meteram nos olhos dela e ela, percebendo, começou a marcar os dela pros lados, “ele não pode chegar aqui! como eu vou estender a mão! Santa Luzia, mostra outro lugar pra esses olhões!”

Mas nada adiantou... ele foi se aproximando como se amarrado por todos os dedos que ela não tinha naquelas mãozinhas.

Ela fechou os olhos.

Ele tirou a mão direita do bolso da calça e estendeu pra ela.

Ela sabia que ele estava ali. Não era de bom tom ignorar.

E quando ela olhou para as mãos dele... ela a viu... com dez dedos.

Um sorriso riscou o rosto dela, e não era de deboche, mas era por encontrar alguém de mão tão absurda quanto a dela.

E olhando mais e mais, ela viu que aqueles cinco dedos a mais não eram dedos quaisquer.

Reconhecia-lhes a finura, as unhas pintadas e o anelzinho de pedrinha verde.

Quando uma parte da gente quer buscar a quem se ama, ultrapassa-se os limites do próprio corpo e da alma."

Um 2010 inteiro para todos nós!!!

Pra conhecer mais... Curriculum

http://mundoazulth.blogspot.com.br/2012/10/curriculum_3.html